JanelasIndiscretas
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Acerca de
Janelas Indiscretas
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Janelas Indiscretas é um projeto que traz vida às janelas “cegas” do pátio do Museu Nacional Grao Vasco (MNGV), em Viseu, e a algumas das janelas das fachadas frontal e lateral do edifício do Museu.
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Com este projeto, estes espaços vazios apresentam ao público que visita o MNGV, em 4 fase,s obras do acervo do MNGV, detalhes dessas obras de arte, figuras, personagens misteriosos e, na última fase, uma combinação de todas.
O título faz uma clara referencia ao filme A Janela Indiscreta, um filme do gênero suspense, produzido em 1954 e dirigido por Alfred Hitchcock. A filosofia que está por trás do projeto se desprende de aquela ideia do olhar que já Platô descrevia na sua República quando destacava a missão dos especulativos, quer isto dizer “os amigos do olhar”.
Em primeiro lugar nos encontramos com o olhar do artista quem descreve nas suas obras diversos momentos, teatralizando histórias, representando momentos da intimidade dos textos sagrados, ou trazendo ante nós os momentos únicos de êxtases e prazer.. a vida mesma no fundo duma tela, na forma comedida - ou pela sua contra sensual - duma escultura, no traço sinuoso duma linha num desenho...
Trata-se dum olhar certeiro, como a seta de cúpido, direto aos nossos sentidos, que nos mostra a multiplicidade de realidades e significados que os diversos níveis de leitura das obras de arte permitem e que põem de manifesto o código múltiplo da arte (De Fusco, 2004).
Em segundo lugar, o olhar do espetador, quem reconstrui com o seu conhecimento o olhar do artista. Este olhar, é único, e como expressava Ortega e Gasset, se corresponde com um ponto de vista individual que é em definitiva, através do único que pode olhar-se o mundo na sua verdade (Ortega y Gasset, 1916).
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Como acontece como esta verdade, com o real, com o Universo, uma obra de arte se compõe de facetas inumeráveis, se descompõe em olhares diversos, cada um deles sustentando em cada individuo, porque cada homem tem “uma missão de verdade. Onde está a minha pupila não está outra; o que na realidade vê a minha pupila não vê outra. Somos insubstituíveis, somos necessários. (…) cada individuo, é o órgão de percepção distinto de todos os outros e como um tentáculo que chega a troços de universo para os outros inexequíveis.” (No Espectador de Ortega y Gasset, 1985,21).
Por isso, Janelas Indiscretas, é apenas um olhar sobre os possíveis olhares. É uma contribuição individual à construção de um significado mas completo da realidade, uma realidade que se presenta vestida ante nós de formas, luz e color. Trata-se em definitiva dum convite ao espetador, as outros pedaços da realidade que se fazem visíveis e perceptíveis ao compartir os nossos olhares.
Ana María Barbero Franco
Janeiro 2016
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Referencias Bibliográficas
De Fusco, R. (2004): Il piacere dell´arte. Capire la pittura, la scultura, l´architettura e il design. Roma-Bari: Gius Laterza&Figli Spa.
Ortega y Gasset, J. (1985): El Espectador. 5ª Ed. Madrid: Biblioteca Nueva.